segunda-feira, novembro 07, 2005

Contextos nocturnos - Fase 1

Germinal, um estudante de Arquitectura moderna olhava intensamente para a sua amada enquanto bebia mais um gole de vodka para ganhar coragem para se declarar.
Não passava de um amor platónico, mas o desejo crescia nele a tal ponto que nem uma foto da Liliana Queirós, trajada como veio ao mundo o fazia desviar o olhar da sua musa.
Os seus amigos lá o iam chamando de José Castelo Branco e outras coisas menos abonatórias para a masculinidade dele, mas Germinal como qualquer jovem inconsequente que se encontra apaixonado, nem sequer ouvia o que estava a ser dito sobre si.
Então de repente bebe o seu Vodka num único gole e levanta-se decidido a pôr cobro á tortura de que era vitima desde que pela primeira vez tinha visto a sua amada numa grande superfície a comprar melancias. Uma tortura que o deixava enlouquecido e sem inspiração para terminar o projecto final de licenciatura.
Quando está prestes a chegar ao balcão, alguém lhe toca no ombro e diz:
- Onde vais, com essa pressa toda?
- È hoje que vou falar com ela, é hoje que vou expor todos os meus sentimentos, todos os meus sonhos de luxúria que me invadem sempre que a vejo.
- Tas parvo, tu vais falar com ela nesse estado? Ainda por cima parece que levas um Bollycao dentro do bolso das calças.
- Tem de ser hoje, ando a torturar-me todos os dias com o pensamento de que é possível tê-la só para mim, ao ponto de não conseguir sequer acabar o projecto para o edifício do Centro Cultural e Desportivo de Fornos de Algodres.
- Tu é que sabes, mas não vais conseguir nada.
- Garanto-te que vou, até tenho uma frase infalível para o conseguir.
- Uiiiiii, estou a ver daqui. Vai uma apostinha em como não consegues?
- Vai, o que é que apostamos?
- Se conseguires eu pago o vosso primeiro jantar romântico, se não, tens de ir fazer de José Castelo Branco ali no meio da rua, quando sairmos daqui. Ta apostado?
- Ok, vais ver o que te vai custar esse jantar. – Responde Germinal cada vez mais convencido que seria hoje que ele iria ficar com a sua princesa.
Aproxima-se da sua amada e diz:
- Olá, eu sou o Germinal e queria te dizer uma coisa se fôr possível?
- Sim, diz-lá, mas despacha-te que eu tenho muita coisa para fazer – diz-lhe ela, como se estivesse a prever o que iria sair daquela conversa.
Então ele tal como um predador que dá o golpe final na sua vítima, lança a sua frase imbatível.
- Eu sei que isto é uma forma muito má de engatar, mas eu acho-te muito bonita e gosto muito de te ver trabalhar aqui
- Isso só será um engate se o outro lado consentir, não concordas?
- Concordo – responde Germinal, vendo que afinal aquela frase de engate não era assim tão imbatível como ele esperava, então o seu cérebro já de si muito fraquinho em questões sentimentais, tenta elaborar outra frase que consiga dar a volta ao contexto.
- És de cá?
- Sou – responde ela, cada vez mais espantada com o que se estava a passar.
- É que não parece. Eu estudo arquitectura no Porto e estou quase a acabar o curso.
- E… – responde ela, já farta daquela conversa inútil toda.
- É que queria saber se vendes droga – responde ele perante o fracasso de qualquer uma das tentativas efectuadas.
- Não, não vendo, mas porque raio me fizeste perder este tempo todo, se era apenas para me perguntar isso? – Responde ela com uma ar de indignação, enquanto olhava para o trabalho todo em atraso.
- Desculpa, mas acho que vou fazer de Castelo Branco ali no meio da rua.

Sem comentários: