terça-feira, novembro 08, 2005

Contextos nocturnos - Fase 4

Apresento-vos um casal de idade que está a passear de mão dada, algures por uma das ruas de um qualquer bairro residencial da Falagueira.
Ele o Sr. António Antunes, reformado dos estaleiros da Lisnave é agora, para além de um marido carinhoso, um militante activo do PCP da Amadora.
Ela a Dª Anaclorinda Antunes passou toda a sua vida em casa nas inúmeras tarefas domésticas de forma a agradar o seu marido. De vez em quando lá ia até à Leitaria Estrela, jogar uma lerpa com as amigas, mas isto só muito de vez em quando.
Ambos com o seu passo lento dado de acordo com aquilo que a idade de ambos permite, vão avançando lentamente, junto aos carros estacionados na rua.
Mas avancemos na história que os velhos não interessam para nada.
Entretanto um carro comercial branco acaba de estacionar saindo lá de dentro um jovem alto, todo vestido de preto que se dirige para a porta do pendura e ao mesmo tempo que a abre diz:
- Ó sofista de um raio acorda que chegamos à Falagueira.
- Deixa-me dormir, não sejas chato.
- Vá deixa-te de tretas e acorda já.
- Porra é sempre a mesma coisa. Esta treta de viajar á noite tem de acabar.
- Eu bem te disse ontem que vínhamos hoje á noite.
- Sim, mas eu não dormi nada de jeito. Bem que podíamos ter vindo só amanhã.
- Pois, até sou eu que tenho culpa de não dormires nada, lá que tu não durmas nada só para ver se arranjas bilhetes de borla para a festa do Avante, já é problema teu.
- Até já falas como um habitante de Spotville.
- Porque é que dizes isso?
- Porque essa boquinha era escusada.
Sem eles darem por nada, surge um jovem carocho, vindo de um dos bairros sociais que ali se encontram e que lhes pergunta:
- Dreads, não arranjam pra i um pouco de xito?
- Não. – Respondem os dois em uníssono.
- Então, emprestam-me 5 euros?
- Mas porque raio é que queres 5 euros?
- Para comprar um bilhete de comboio, para ir para o meio de uma rua de Spotville fazer de José Castelo Branco.

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